quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mamãe de castigo: quando a saúde dá um sinal de alerta


Quero contar essa história porque ela me trouxe várias lições de vida. Tenho família e muitos amigos queridos. Eu estava quase entrando em parafuso com uma rotina maluca e sobrecarregada. Posso e devo contar com a ajuda das pessoas para cuidar da casa, do Henrique e das minhas coisas. E, principalmente, o meu marido está preparado para ser pai, mãe e enfermeiro.
No final do ano passado, em meados de novembro, fiz a mamadeira do Henrique e sentei na poltrona de amamentação para fazê-lo dormir no colo, como era de costume. Neste dia, cruzei uma perna em cima da outra, e não percebi que isso prendeu a circulação. Quando levantei para colocar o Henrique no berço, a perna esquerda estava completamente dormente e bambeou de um jeito que eu não conseguia ficar em pé. Então, para não cair no chão (porque eu estava com o Henrique no colo), virei o pé esquerdo para tentar me firmar. Consegui me apoiar no berço com o pé virado e coloquei o Henrique lá são e salvo. O pé doeu muito, coloquei gelo e fui dormir ainda com dor.
No dia seguinte, o pé estava muito inchado e doía bastante. Coloquei uma sandália rasteirinha (porque nenhum sapato entrava no meu pé) e fui trabalhar mancando. No meu trabalho tem serviço médico, e meus colegas insistiram para eu ir até lá tentar uma consulta de emergência. Assim que a médica me examinou, disse que era para eu ir imediatamente ao hospital tirar um raio-x para verificar se havia fratura. Pensei que era exagero, porque não estava doendo tanto assim.
Cheguei no hospital e, na triagem, me pediram para eu dar a escala da dor, que variava de 0 a 10. Dei nota 7. Deve ter torcido, pensei. Então fiz o raio-x e lá estava a fratura do osso chamado metatarso (a primeira fratura da minha vida). Resultado: imobilizar o pé por 45 dias e andar de muleta por, no mínimo, 2 semanas (fiquei 30 dias de muleta).
Fui para casa arrasada. Só pensava em como faria para cuidar do Henrique sem poder colocar o pé no chão. Pior de tudo é que o Henrique, na época com 1 ano e 5 meses e no auge da energia, passava a tarde no berçário do meu trabalho. Só temos direito ao berçário quando estamos trabalhando... Como eu faria para cuidar dele em casa, de muleta, sem poder colocar o pé no chão?!
Quando cheguei em casa, recebi uma notícia maravilhosa. Uma colega do trabalho havia ligado no berçário para contar a tragédia e pediu para o meu marido continuar levando o Henrique à tarde. A autorização foi dada e fiquei muito feliz!
Eu passava o dia sentada no sofá, porque andar de muleta era muito difícil. Era tão difícil que, no segundo dia de muleta, tropecei, desequilibrei e quase cai no chão. Para isso não acontecer, virei o outro pé para me equilibrar (o pé que estava são). Não contei o que tinha acontecido para não preocupar o meu marido que é muito desesperado.
No dia seguinte ao acidente com a muleta, o dedo do meio começou a roxear. Então, resolvi mostrar para o meu marido e contar o pequeno acidente. Ele ficou doido: “Telma, você quebrou o outro pé, não é possível!” Lá fomos nós domingo à noite para o hospital novamente. Lá chegando, outra escala de 0 a 10, dei 6, raio-x e... o dedo realmente havia fraturado.
Essa história até se espalhou na cidade. Quase fiquei famosa em Brasília como a mulher que tinha quebrado os dois pés! Uma amiga me contou que um dia escutou duas pessoas comentando sobre o caso da mulher que tinha quebrado os dois pés e falou: “nossa é minha amiga!”
Essa segunda fratura foi mais simples. Não precisei imobilizar, só fiz esparadapagem para isolar o dedo (um curativo com esparadapo). Voltei para casa com aquela situação cômica de um pé engessado, o outro enfaixado e de muleta. Se já não era fácil andar de muleta com um pé são, imagina só com os dois pés prejudicados... Meu marido até alugou cadeira de rodas.
Mas a tragédia não parou por aí. Após uma semana que havia imobilizado o primeiro pé, comecei a sentir uma câimbra na panturrilha. Contei para a minha irmã e ela ligou imediatamente para o marido que é médico. Ele falou para eu ir direto para o hospital porque poderia ser trombose...
Lá fui eu para o hospital pela terceira vez, ninguém acreditava. Na escala de 0 a 10, dei 5. Era só um pequeno incômodo. O médico que me examinou disse que não tinha característica nenhuma de trombose porque não estava inchado nem roxo, mas pediu um Doppler por muita insistência do meu cunhado.
Resultado: eu estava realmente com trombose! Aí vi na cara do meu cunhado que a situação tinha se agravado e muito. Percebi que ele cochichava com outros médicos, chamou cardiologista e ligou para vários angiologistas, estava muito inquieto e preocupado.
Fui medicada com injeção de anticoagulante na barriga que eu deveria continuar fazendo em casa. No dia seguinte, fui à consulta com o angiologista. Fiquei mais calma, porque ele me explicou que a trombose nos membros inferiores não oferece muito risco para embolia pulmonar. Muitas pessoas têm, não descobrem e o corpo cura sozinho.
Mas o tratamento foi bem chato: injeções na barriga por uma semana (sorte que a minha irmã dentista foi minha enfermeira), dois ou três exames de sangue por semana, para acompanhar a taxa de coagulação do sangue, e remédio oral por três meses. A maior recomendação: “por favor, Telma, cuidado para não se machucar mais porque o seu sangue está muito fino e pode ser perigoso”. Quase que o meu marido comprou capacete, cotoveleira e joelheira. Eu era proibida de fazer tudo em casa, até levantar para tomar água.
Fiquei em casa sem poder fazer nada, sem cuidar do Henrique, sem poder tomar banho sozinha. Por um lado foi bom. Descansei, assisti vários filmes e li vários livros, coisas que não fazia há tempos. Passava a manhã vendo o Henrique brincar com minha empregada e tirava um cochilo à tarde. Quando o Henrique queria algo, ele falava ã, puxava a minha mão e apontava para a muleta. Era para eu levantar e segui-lo para algum lugar, o que eu fazia depois de ter aprendido a andar na muleta direito.
Meu marido tornou-se, então, pai, mãe e enfermeiro. Ele sempre cuidou muito bem do Henrique, mas o cérebro dele era de homem, ou seja, ele só fazia uma coisa de cada vez, esquecia de se programar e organizar as mil coisas de um menino pequeno, tinha o sono tão pesado que à noite não escutava o Henrique chorar.
A situação mudou, o cérebro dele se adaptou e ele virou uma mãe. Fazia tudo o que eu fazia, com todo o planejamento e organização, cuidava de tudo sozinho, acordava de noite para cuidar do Henrique (o sono dele ficou tão leve que ele pulava da cama ao mínimo suspiro). E, ainda, nas horas vagas tinha que ser enfermeiro e me ajudar a tomar banho e fazer curativo no pé.
Vocês podem acreditar que ele até levou o Henrique a duas festas de criança, arrumou a mochila sozinho e me contou todo feliz: “pode deixar que coloquei tudo, não esqueci nem o casaco, nem a chupeta, nem a água!” Ainda tirou foto do Henrique pulando na cama elástica para eu ver a diversão.
Também mudei muito. Principalmente desliguei bastante das responsabilidades, comecei a dormir pesado, parei de me cobrar tanto. Reconheci que não sou auto-suficiente e que dar conta de tudo sozinha é desnecessário e pode ser um risco para a própria saúde. Recebi várias ligações e visitas de pessoas queridas que se importam comigo. E, principalmente, descobri que o meu marido é nota mil, superou todas as minhas expectativas!

10 comentários:

Angi disse...

Telma,
nossa, como aconteceu tudo isso de uma só vez contigo?Que péssimo,mas como tu mesma falou, serviu para descansares, e ver que tem um marido MARAVILHOSO,E AMIGOS, E FAMÍLIA!
Que bom que no fim deu tudo certo, mas imagino como deve ter ficado logo no início!
Beijão

Chama a mamãe disse...

Nossa Telma, que situação hein!!!
Eu queimei com água a minha mão direita quando a Eloise tinha 25 dias. Foi uma queimadura de 2º grau, fiquei com a mão enfaixada, foi horrível!! Além da dor é claro, tinha que ir no hospital fazer curativos, não podia cuidar direita da Elô (dar banho, fazer mamadeira, cuidado para carregá-la) enfim, foi uma barra, até hoje tenho a cicatriz.
Mas nesses momentos dificeis, Deus capacita as pessoas para nos ajudarem e tudo acaba bem.
Parabéns pelo maridão, amigos e sua família.
Bjos querida

Unknown disse...

Telma ... acho que tenho humor muito negro, porque até a parte de quebrar os dois pés eu ri, mas depois me preocupei demais! Agora você está bem!??! Bom, ainda bem que você tem dois anjos em casa, o Henrique que sem entender ajudou e seu marido que foi nota milhões!!!

Para melhorar 100% essa situação, passa lá no meu cantinho e busca dois selinhos bem especiais que ofereço à você!

Fica com Deus!
Beijos,


www.monmaternite.blogspot.com

Bárbara Barreto disse...

Nossa, Telma, to a beira de um colapso físico e mental!
Ando tão cansada, mas não quero dar o braço a torcer, sabe?
Vou pegar o seu caso como exemplo e colocar o pé no freio!
Obrigada por ter ligado o meu alerta!
Beijo grande

MÃE DO GUI disse...

Oi Telma, vi vc no blog de uma fofa e vim aqui te conhecer, acabei me deparando com esse texto meio engraçado meio triste, mas completamente incentivador. Tb sou como vc, uma leoa, e me acho super heroina e não somos!!! Os papais tb são super capazes de dar conta do recado! parabéns pelo maridão "bombril" !!!

Bjo e seja bem-vinda lá no meu cantinho tb!

Jana

Fabrisia Garcia disse...

Oi amiga (olha a intimidade, rs)!!!
A história realmente chega a ter momentos engracados... Poça, ficar famosa por, quebrar os dois pés, ainda mais em um momento desses... Mas são dessas situações tão difíceis q tiramos ótimas lições. Adorei qdo contou sobre como o papai teve q colocar a mão na massa! Aqui em casa, apesar do papai ajudar, ainda acho q Nao eh o suficiente... Tentamos abraçar o mundo, fazer td por todos, e as vezes temos q parar um pouquinho, pedir ajuda! Nao eh nada facil ser mulher e mãe nos dias atuais..

Bjo

Ps: soh consigo incluir comentários qdo entro no seu blog pelo celular, sorry...

Cin disse...

Olá Telma. Fiz um blog tbém recentemente, pois como mãe de um casalzinho lindo sou apaixonada por essa coisa louca e mágica que é a maternidade. Gostaria de convidá-la para conhecer meu blog o qual irei tratar de diversos assuntos ligados ao universo infantil. Se puder deixar sua opinião será de grande peso pra mim. Bjao!
O end é:http://maenualdeinstrucoes.blogspot.com

Anônimo disse...

Olá Telma! Ter achado essa postagem foi como um lavar de alma para mim, pois estou vivendo situação interessantemente idêntica, e hj após praticamente dez semanas após o acidente, recebi a notícia de que terei que ficar com a "botinha de paquita" até depois do carnaval, pois a TC nos informou que a fratura do metatarso está PARCIALMENTE CONSOLIDADA!!! A minha novela teve início em novembro/2011, no dia em que decidimos desmontar o berço do meu filho de 1a e 10m, e na ânsia de fazertudoaomesmotemposozinha, descendo as escadas carregando partes do berço, torci o pé direito , fraturei o 5 metatarso do esq e caí da escada!! O resultado vc já sabe: voltei do hosp. c/ os 2 pés imob, dei de cara com 2 filhos apavorados c/ a mãe na cadeira de rodas, e por aí vai... E como se não bastasse, 1 mês depois veio a confirmação da trombose na perna do pé fraturado... Hj estou recuperando o pé direito com muita fisio e, muito choro, mas tb descobri que precisava desacelerar, precisava dar oportunidade para que meu marido tb se tornasse um pouco mãe! E a luta continua... Saúde e Fé. Bjks

Telma disse...

Nossa, sei bem como é a situação... Meu acidente tb foi em novembro (2010). Em dezembro de 2011 quebrei de novo o dedo do pé em acidente caseiro tb por causa do meu filho. Inacreditável né! Espero que voce se recupere logo e nao quebre mais nada! Que Deus proteja os nossos pés! Volte sempre. Bj

Telma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.