sexta-feira, 8 de abril de 2011

A dificuldade na alimentação


Sem dúvida que foi essa parte que mais me fez evoluir como pessoa. Mudei completamente minhas opiniões e pré-conceitos, cobranças e expectativas.
Vou começar falando do meu marido que é um homem cheio de qualidades. Mas no quesito alimentação, ele é muito seletivo. Sempre o critiquei e, lógico, a mãe dele, minha querida sogra que também é a minha mãe do coração. Coitada, ela tinha que levar a culpa, como as mães sempre levam... Se ele não come bem, é porque a mãe não ensinou. Não que ela fosse uma mãe ruim, pelo contrário, ela era boa demais, fazia sempre as vontades dele. Então eu achava que era mimo.
Meu marido só come bife e tem que ser fílé de frango ou filé mignon. Não come qualquer outra parte do frango, não come carne com gordura, nem mal passada, não come peixe nem frutos do mar, não come qualquer carne cozida, quase não comia salada ou legumes antes de me conhecer (depois melhorou um pouco). Se ele não gostar da comida ou não tiver nada do que ele come, ele fica sem comer. Passa fome mesmo.
Então eu me gabava que eu sabia comer direito e de tudo porque a minha mãe me ensinou a comer. Que não tem isso de não querer comer, a gente pode comer qualquer coisa se estiver na hora de comer, não precisa ser o que você adora. Está na hora de comer e é aquilo que tem, está ótimo. Como todas as frutas, verduras e legumes, qualquer tipo de carne, de qualquer jeito. Amo peixe, camarão e comida japonesa (o Júnior não pode nem ver). Pensava então que um dia que eu tivesse um filho ele seria que nem eu porque eu daria o exemplo.

Pensa só na minha sorte, quem que o Henrique puxou?! 
Comer é algo que a gente ensina sim, mas muita calma nessa hora. A gente oferece, insiste um pouco, tenta várias vezes, mas também tem a parte da criança, das suas próprias preferências.

Foi muito difícil. Comecei a dar papinha de fruta e suco de laranja lima com 4 meses. Ele cuspia tudo. O suco eu fazia todos os dias até que depois de 1 mês ele começou a adorar. A fruta nada.
Com a papinha salgada comecei logo depois e foi um pouco melhor. Nas primeiras vezes ele fazia ânsia de vômito. Depois começou a aceitar. Ele comia até bem, mas eu não achava que era bem porque ele nunca comia tudo. É porque o pediatra falava que tinha que comer uns 200 a 250 ml e o Henrique só comia uns 100 ml no máximo. Depois mudei de pediatra e esta, muito mais sábia e sensível, me disse que cada criança precisa de um tanto para comer, se sentir satisfeita e se desenvolver. Para o Henrique sempre foi assim. Ele não precisava comer demais para crescer.
A fruta ele começou a aceitar somente mamão ou manga bem batidos. Depois começou a gostar também de goiaba batida e peneirada. E a sopa foi indo bem até começar o sólido.
O Henrique não sentava numa boa para comer. Ele nunca queria. Parecia que nunca estava com fome e que a comida nunca o atraia. Ele até fazia careta só de ver a comida. Então eu fazia de tudo, cantava, contava histórias, imitava as vozes dos bichinhos, agudas e graves conversando com ele, colocava brinquedos na mesa, dava potinhos com tampa para ele abrir, dava a colher para ele pegar a comida, ensinei ele a dar comida para os bichos para ver se ele animava (era uma colher para o bicho outra para ele)... nossa eu fazia de tudo (só não coloquei ele em frente da televisão nem saia correndo atrás dele com o prato no mão). Mas eu ficava muito frustrada principalmente quando ele praticamente não comia. Para mim era um fracasso, dar a comida, aquele esforço todo, e jogar tudo fora, sem falar na preocupação dele não se desenvolver direito, afinal ainda era um bebê.
Com quase sete meses, voltei a trabalhar e o Henrique foi comigo para o berçário que temos no trabalho. Lá tem nutricionista, pediatra, pedagoga, psicóloga e cuidadoras maravilhosas. Só que com 8 ou 9 meses, os bebês já comiam comida amassada. Menos o Henrique (e a Maria Clara, cuja mãe era minha solidária no desespero, e olha que a Maria Clara já era a terceira filha, sendo que os outros não deram nenhum “problema”).
Quando o Henrique não comia, eu descia para amamentar. Na hora da fruta, eu sempre ia porque ele quase nunca comia. O jantar até ia bem. As cuidadoras tentaram amassar a comida algumas vezes, mas o Henrique resistiu tanto que elas voltaram para a sopa. Até que com 1 ano, ele e a Maria Clara eram os únicos bebês que ainda não comiam comida.
A nutricionista (não precisa nem dizer que ela ainda não é mãe) deu então um “chilique” : Como assim, com 1 ano ainda não come comida? Tem que começar, para desenvolver os dentes, a fala e até o cérebro, e etc.
Aí foi que o Henrique começou a greve de fome. Parou de comer mesmo. Não sei se era birra, mas ele não comia a comida, nem amassada, nem batida, nem sopa, nem nada. Eu já não amamentava mais. Dava só uma mamadeira de noite e outra de manhã. A pediatra do berçário disse para eu não aumentar o leite para ele aprender a comer. Nossa foi uma fase bem difícil, pois o Henrique até emagreceu.
Depois ele começou a comer só arroz. Depois alguns dias ele aceitava o arroz com caldinho de feijão. Depois de muito tempo começou com a carne bem desfiada. Aí ele abandonou o arroz e só queria comer carne... Depois começou a gostar de cenoura e beterraba cozidas no vapor, cortadas em tirinhas. Tinha dia que ele só comia carne, outros só carne e cenoura, outros só cenoura. Depois começou a aceitar macarrão com azeite e ovo mexido que ele adora.
Desenvolvi, então, algumas técnicas. Começo oferecendo o que ele come menos, o arroz e o feijão. Deixo ele comer bastante e só depois coloco a carne. Se eu colocar tudo junto, ele escolhe o que vai comer. Também melhorou muito quando comecei a dar a colher para ele tentar comer sozinho e deixá-lo pegar a comida com as mãos.
Hoje, com 1 ano e 9 meses, ele praticamente come sozinho. Só ajudo um pouco, mas nem sempre ele deixa. Às vezes pede para comer, então não é mais aquele sofrimento. Mas respeito o quanto ele quer comer e também se não quer. Não adianta forçar. O que faço é tentar alguma opção que ele aceita melhor.
Entendi muito bem o que aconteceu com a minha sogra. Filho que não come é uma agonia, então a gente acaba mesmo fazendo o que eles aceitam. Talvez seja um erro, mas é muito estressante fazer todo dia uma comida diferente e jogar fora, sem falar na tortura de deixar o filho passar fome...
Tive então esta grande lição, comer bem é relativo e ser seletivo não é um defeito, é uma característica!
Lá em casa é assim, sempre tem bife, ou de frango ou de carne, arroz, feijão, cenoura ou beterraba cozidas. Às vezes tem algo diferente e sempre coloco no prato do Henrique para quem sabe um dia ele provar e começar a gostar. Aconteceu isso com a berinjela e a vagem. Noto que hoje ele também tem mais curiosidade em experimentar pelo menos. Mas encaro tudo com muito humor, sem expectativas e sem cobranças. Quem sabe a namorada ou esposa do Henrique, no futuro, consiga ensiná-lo a comer salada?!

2 comentários:

Conceição Reis disse...

Minha querida Telma ! adorei seu comentário a respeito da alimentaçaõ do Henrique e sua dedicaçaõ na intençaõ dele se alimentar bem e comer sem restrições. Eu não tive esta paciência, preferia dar o que eles queriam comer e reconheço o meu erro . Sei que as esposas hoje sofrem é por minha causa. Por tanto vc agiu corretamente e te felicito por ensinar corretamente o meu querido Henrique. BJ

Telma disse...

Querida Conceição, não quis dizer que a culpa foi sua, pelo contrário, entendi o quanto é difícil ensinar o filho a comer! Te adoro e te admiro em tudo. Beijos, Telma.